ESCOLA DA NATUREZA – SONS NATURAIS
Na “Escola da Natureza” os sons propiciados pelos ambientes naturais são muito importantes como estímulos e até como finalidades em si. A “voz” dos rios e cachoeiras, o gemido do vento, o farfalhar das folhas, os gorjeios dos pássaros, as “falas” dos outros animais. Estes sons perfazem a sinfonia de uma Natureza que, ao mesmo tempo, é revelada e revela. Uma música da qual parecemos sentir cada vez mais falta. Esta carência é percebida por pessoas que tem a possibilidade da comparação, experienciando os ambientes urbanos e naturais. E, também, está sendo verificada pela ciência. Há cada vez mais indícios científicos de que “sons naturais” são importantes para nosso desenvolvimento psíquico e emocional. Apontando, inclusive, na direção de que sua falta pode provocar distúrbios e doenças.
Portanto, pensar numa “Escola da Natureza” é propiciar esta percepção, esta experimentação sonora. Vamos ver, nas próximas linhas, a correlação dos sons com a Escola da Natureza e conosco.
SONS E GOSTO MUSICAL
Claro que o gosto musical das pessoas é extremamente variado. A quantidade de gêneros e subgêneros musicais existentes reflete esta diversidade de interesses e gostos. As músicas, inclusive, provocam diferentes emoções em distintas pessoas, momentos e locais. Porém, dentre todas as variações possíveis, há alguns padrões que parecem inescapáveis, pois representam, não a expressão emocional de alguém, mas padrões de comportamentos e fenômenos físicos.
É que a música é um conjunto de sons estruturados. E sons são ondas que tem comportamentos padronizados e estudados por um campo da física, a Acústica. Enfim, isso significa que, além, da reação emocional outorgada pela subjetividade individual, que pode causar realmente uma gama enorme de variações, há também um processo que implicará em efeito que será invariavelmente similar. Explicando de forma mais simples. A música pode ter resposta emocional diferente, dependendo da pessoa que ouve, do lugar onde ela está e do seu ânimo. Ou seja, a mudança acontecerá sempre “dentro” de nós. Porém, o comportamento físico das ondas sonoras não terá variações, a não ser as impostas pelo ambiente em que se propagam.
EVOLUÇÃO E SONS
Portanto, é certo afirmar que, no decorrer de todo nosso processo evolutivo, sabendo que a construção de grandes cidades e máquinas barulhentas é bem recente, tudo que ouvimos foram registros sonoros naturais. Foi através destes barulhos que compreendemos o mundo e construímos nossos caminhos. Por causa disso, é fácil compreender a familiaridade e bem estar que certos sons proporcionados pela Natureza causam nas pessoas. Seria como uma “volta às origens” através dos sentidos. Não é à toa que, ao buscar “músicas relaxantes” nos sites de busca da rede, os resultados encontrados serão majoritariamente sons da “Natureza”.
CONFIRMAÇÃO DA CIÊNCIA
Há algumas pesquisas científicas que apontam na direção de confirmar o que já é intuído há bastante tempo. Ou seja, que sons naturais são intrinsecamente relaxantes para nossa espécie. Uma pesquisa bem interessante e emblemática ocorreu no ano de 2017, e foi publicada no periódico britânico Scientific Reports. Ao monitorarem batimentos cardíacos, atividade cerebral e comportamentos motores de voluntários expostos a sons naturais e sons de ambientes criados ou compostos por pessoas, percebeu-se uma grande diferença nas respostas orgânicas. A exposição aos sons da Natureza criou um estado de calma e relaxamento, mesmo quando as pessoas realizavam tarefas que seriam normalmente mais estressantes. Mais que isso: os pesquisadores notaram que este efeito já é sentido em menos de cinco minutos de exposição aos sons. Ou seja, a eficácia do processo é forte.
CONFIRMAÇÕES PEDAGÓGICAS E SUBJETIVAS
Linhas pedagógicas na Educação buscam o contato com a Natureza e elementos naturais. Na Pedagogia Waldorf, por exemplo, se compreende a importância do meio ambiente para fornecer os corretos estímulos para a formação dos órgãos sensoriais. Com a percepção de que não adianta substituir experiências sensoriais naturais por simulações ou artificiais. Mais uma vez está presente a noção de que não podemos driblar nossa história evolutiva, sob pena até de desrespeitar nossa própria identidade.
Também há várias tradições espirituais e culturais que reconhecem a importância do contato com a Natureza. Algumas, como as de Matriz africana, necessitam, inclusive, da Natureza como seu verdadeiro “templo”, onde praticam seus rituais. A religião “Wicca”, outro exemplo, têm todo seu escopo de crenças baseado em fenômenos naturais.
TRABALHANDO COM SONS NA ESCOLA DA NATUREZA – EM QUALQUER ESCOLA
Mas, então, compreendendo toda a importância dos sons naturais para nossa saúde mental, física e anímica, como podemos trabalhar com estes sons para forjar um projeto de “Escola da Natureza”? Numa escola onde há locais que permitam ouvir estes sons ao vivo, planejar e realizar atividades nesta direção não seria difícil. Mas, como poderíamos fazer isso em caso de escolas onde não existem estes “Espaços de Natureza”? Estariam estes espaços fadados à abdicar desta lógica? Admitindo que não está perto da situação que poderíamos considerar ideal, há sim formas de tentar contribuir na instauração da “Escola da Natureza”, em forma de projeto, mesmo dentro destes espaços. Na verdade, em quaisquer espaços.
Vamos ver algumas dicas e considerações a este respeito.
SONS “SOBREVIVENTES”
Apesar de o ambiente construído não permitir o contato com sons naturais mais puros, estes ainda devem ser possíveis de serem ouvidos. Por exemplo, ventos e pássaros são comuns em quase todos os lugares. E claro que vale à pena aproveitar estas oportunidades para incentivar as crianças a ouvi-los. Ao realizar a tarefa de parar para ouvir, será interessante perceber como estes sons têm um poder especial de permitir uma concentração diferente. É bem certo que no início pode ser bem difícil conseguir um tempo de contemplação das crianças, mas o exercício da insistência pode atingir resultados surpreendentes. O negócio é não desanimar e tentar treinar seus ouvidinhos para a experiência.
SIMULAÇÕES DE SONS
Temos de admitir que não nos é possível levar um rio para dentro da escola. E pode ser bem difícil estar organizando passeios muito frequentes para banhos de cachoeiras. Porém, sons de água são bem fáceis de serem simulados no ambiente interno da escola. Uma bacia de água, copos e canudos já podem realizar uma atividade bem interessante. Daí, se pode pensar em utilizar materiais naturais para canalizar ou fazer a água escorrer. Que tal pensar numa maneira de simular o som de um rio, de uma cachoeira?
O vento também pode ser simulado, ainda utilizando a matéria prima da qual é feito: o ar. Outros fenômenos, no entanto, necessitariam de recursos artificiais para terem sua “voz”. O mesmo valeria para vozes de animais. De qualquer maneira, também é uma experiência interessante para ser oferecida às crianças.
MÚSICAS ACÚSTICAS E ORGÂNICAS
Instrumentos musicais feitos de madeira possuem origem natural para seus sons. Também é importante dizer que muitos instrumentos percussivos aproximam a experiência do ouvinte de sua raiz, contribuindo para perfazer trechos da ponte que tencionamos construir na Escola da Natureza. Experiências musicais mais orgânicas podem ter efeito semelhante ao mencionado no artigo a respeito do contato com os ambientes naturais: criarão uma conexão da pessoa com suas origens naturais.
OUTROS DESDOBRAMENTOS
Então, cabe ao educador, na Escola da Natureza, desenvolver atividades e interesses dos pequenos a partir destas experiências, mesmo que curtas. Quem são os pássaros que cantam? Conseguimos imitar o barulho do vento? Ainda dá para confeccionar e brincar com brinquedos de vento, fazer origamis de pássaros, etc.
Qual a importância da água para nós? De onde vêm esta água? E, se construíssemos instrumentos para fazer uma banda que tocasse “músicas orgânicas”?
Nestes casos, o som traz outras formas e sensações, e incentiva a empatia para com suas origens e os locais aos quais pertence. Isso irá trazer o desejo de buscar mais estas vivências, retornando ao berço natural e criando uma oroborus do bem.