No dia 05 de junho de 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o “Meio Ambiente Humano” em Estocolmo, foi instituído o Dia Mundial do Meio Ambiente. Considerado um marco na maneira da sociedade contemporânea pensar e se relacionar com o “Meio Ambiente”, foi tudo isso e nada disso ao mesmo tempo. A ideia era chamar a atenção para os problemas ambientais que enfrentávamos e, principalmente, para a importância da preservação dos recursos naturais, que, até então, eram considerados inesgotáveis.
O QUE MUDOU
Desde a metade do século passado, a humanidade vêm acordando para as questões ambientais, para nossa correlação direta com estes e para a necessidade de frear muitos de nossos processos antes que seus impactos fossem, em alguns casos, definitivos para a própria existência de nossa civilização. Durante estes tempos, muitas percepções foram inevitavelmente se transformando.
Uma das noções mais importantes que mudou foi a compreensão dos limites e até finitude dos recursos naturais. Antes, a ótica equivocada era de que podia-se extrair indefinidamente tudo que a Terra nos oferece, que nunca se acabaria. Na verdade, a comunidade científica sempre alertou para estes processos, mas a grandiosidade da escala com que estes recursos se ofereciam aliada a um modelo sócio-econômico acumulativo de riquezas e recursos possibilitava a ilusão de que não havia limites para a exploração e utilização dos ambientes naturais. E, além desta, muitas outras ideias mudaram também, movidas pela nova sensação de que era preciso fazer algo, mudar alguma coisa, pensar o mundo de maneira diferente. Era preciso que as pessoas passassem por uma transformação, abraçassem essa transformação e que a utilizassem para transformar todas as suas relações com os ambientes naturais.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A Educação Ambiental surgiu como a ferramenta necessária, dentro de nossos processos pedagógicos e formativos, para incutir as informações e conhecimentos que possibilitariam a construção dos novos parâmetros sociais. A essência da ideia era muito importante, fundamental até, mas sua forma foi, inevitavelmente, contaminada pelo rumo ditado por todo o processo civilizatório construído até então. Ainda hoje, a Educação Ambiental continua se digladiando com o modelo pedagógico tradicional e com a macro-estrutura social.
Foi um fracasso? Não. A certeza de que a mudança era necessária já fazia parte das discussões acadêmicas, de alguns setores da sociedade e até do imaginário popular. O problema é que a maior resistência às novas ideias vinha exatamente das camadas mais altas do sistema social que se desenhara. Lugar de onde, geralmente, se ditava os rumos para onde este mesmo sistema se dirigiria. Quase um paradoxo. Para que as mudanças fossem verdadeiramente agregadas à equação do sistema era necessário que as pessoas que mais se beneficiavam deste abrissem mãos dos mecanismos dos quais usufruíam.
ALARMISMO, NATURALISMO E CETICISMO
Ao buscar o esclarecimento, então, as estratégias foram se delineando. Se era importante que as pessoas tinham a maior fatia do que o ambiente oferecia criassem consciência de que havia necessidade de preservar e explorar sustentavelmente os ambientes naturais, elas deveriam se sentir parte disso. Ou, quem sabe, temer as consequências do modelo inviável. Deste caminho foi gestada uma estratégia alarmista. Aquela que, sem se furtar à realidade, foca os procedimentos educativos nos problemas, crises e tragédias. Utilizando o discurso de que: “ou mudamos ou o mundo acaba”.
Em direção bem distinta, foi se criando, aos poucos, em realidade resgatando, uma forma de educar pautada na percepção de que fazemos parte da Natureza, submetidos então a todos os processos naturais. A intenção desta linha é a criação da empatia pelo ambiente e por todos os seres que o compõem. Portanto, são utilizadas atividades e materiais naturais e, sempre que possível, os educandos são levados à áreas de atrativos naturais.
Como reação ao naturalismo e principalmente ao alarmismo, surgiu uma maneira cética de pensar a relação com o meio. Esta “filosofia” tende a ser absolutamente negacionista e ignorar dados científicos e até mesmo processos muito simples como o de “causa e efeito”.
MEIO AMBIENTE E SER HUMANO: RELAÇÃO CONTURBADA
Todas as intenções educacionais mencionadas (até mesmo o ceticismo) trazem uma conclusão derradeira: a de que há algo errado com nossa relação com o meio. Algo que precisamos repensar, reformular e refazer. Mas para cumprir todo este processo de erres, talvez o mais importante seja recuperar alguma coisa largada e perdida pelo caminho. Uma compreensão que abandonamos lá atrás em nossa história. Afinal, antes de inventarmos tudo isso, éramos parte integrante dos ecossistemas.
É POSSÍVEL CONCILIAR NOVAMENTE
Não é o caso de renegarmos tudo que foi compreendido e criado, mas sim de adicionar à tudo isso a conexão antiga. Está na hora de incutirmos a humildade necessária para não nos percebermos donos de tudo que há a nossa volta, legitimando toda sorte exploratória; é o momento de praticarmos um olhar mais horizontal para com os ouros seres que partilham o mundo conosco; é tempo de devolvermos tudo que nos é oferecido em forma, pelo menos, de respeito.
O Dia do Meio Ambiente não é um só, mas todos os dias. E somos parte dele, cada segundo de nossas vidas. Talvez, o nome ainda nos afaste da redescoberta necessária. Chega, então, de Meio Ambiente e Dia do Meio Ambiente. Dia 5 de junho passa a ser o Dia de Nossa Casa, para lembrar que vivemos, partilhamos e recebemos suas dádivas TODOS OS DIAS.