Há quase um consenso que eventos escolares são importantes, de alguma maneira, na dinâmica que relaciona crianças, pais e a própria escola. Porém, nem sempre as coisas saem exatamente como gostaríamos que fossem. São pais que reclamam que algumas instituições exageram na dose, fazendo festas demais e cobrando um valor de participação na maioria destas. Outras escolas se permitem ignorar o calendário festivo, gerando, às vezes, certa estranheza dos mais tradicionalistas. Enquanto isso, por outro lado, também acontece de estabelecimentos de ensino reclamarem da ausência dos pais nos eventos, da falta de ajuda com as crianças. Enfim, há uma grande variedade de atores e situações envolvidas. Como, então, evitar “erros” e realizar eventos perfeitos?
Pensando nestes dilemas, resolvemos nos debruçar sobre as características dos atores e situações relacionadas. A intenção é ajudar a desvendar, de uma maneira geral, como fazer estes eventos cumprirem suas importantes funções. Que sejam: interação entre pais, filhos e escola; tornar-se ferramenta conectada com o planejamento pedagógico; contribuir no esclarecimento dos planejamentos e dinâmica das escolas para os responsáveis; incentivar contribuição e cumplicidade dos responsáveis; lazer; e, claro, várias outras que não pensamos.
Dividimos esta publicação em duas partes: dicas gerais para planejar e realizar o evento da melhor maneira possível e sugestões diferentes para inovar e surpreender. Confiram abaixo.
6 DICAS PARA REALIZAR BONS EVENTOS ESCOLARES
Seguir ou não o calendário? Há escolas que, por seguirem pedagogias específicas, não o fazem. Mas a maioria das escolas, em vista que a maioria dos pais também pensa assim, realiza eventos ou festas regularmente durante o ano letivo. Primeira pergunta: quantos eventos nas escolas podemos fazer por ano? O exagero no número de eventos escolares realizados será obviamente mal visto pelos responsáveis e a ausência destes, não justificada pedagogicamente, também. A cobrança financeira exagerada também poderá ser mal vista, mas a falta de remuneração pode, em alguns casos, gerar dificuldades orçamentárias.
Quanto à participação dos pais. Sabemos que é muito importante, inclusive para evitar a frustração dos pequenos, para quem estes acontecimentos tem dimensão e relevância bem maior que para os adultos. Portanto, a forma como a escola apresentará e realizará o evento pode se tornar fundamental para a participação ou não destes.
Além disso. Que datas escolher? Dia das Mães e Dia dos Pais ou um Dia da Família? Hallowen ou Dia do Saci? Dia da Terra? Dia da Água? Um evento por mês? Fazer a tradicional apresentação das crianças ou algo diferente? Convidar um grupo de fora ou apostar as fichas na equipe?
Sabemos que parece muita coisa, muita responsabilidade. Mas, quem foi que disse que era fácil aceitar a missão de acolher as crianças num ambiente aconchegante, protetor e, ainda por cima, pedagógico? Mas, não precisamos nos desesperar. Bom senso, boas ideias e, principalmente, a consciência do caminho a seguir põem as coisas em seus devidos lugares. Vejamos então um pequeno resumo de dicas que poderiam ajudar no processo de construção e realização de um evento.
APROVEITAR O POTENCIAL DAS DATAS DENTRO DO PLANEJAMENTO
Quase todas as datas festivas correspondem a assuntos muito vastos e complexos. Que, portanto, demandariam bastante tempo de aprofundamento para que conseguíssemos minimamente transmitir alguma compreensão para os pequenos. O problema é que, como a festa geralmente ocorre em uma data específica, como seria possível realizar um trabalho mais longo? Para isso, existem dois caminhos. Adequar o momento específico ao planejamento que já existe, mais fácil. Ou abraçar o conteúdo do evento e permitir seu desenvolvimento durante o tempo necessário para que seja razoavelmente contemplado. O que devemos realmente evitar é que as crianças vistam, por exemplo, fantasias folclóricas num dia, repentinamente, e no outro já estarem com uniformes e não se fala mais nisso. Precisamos criar os contextos para que estes movimentos sejam orgânicos.
APLICAR O POTENCIAL DE LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES PLÁSTICAS
Quando optamos por realizar as festas que constam em nosso calendário, já temos algumas respostas prontas. A imagem destas que vêm à nossa mente cria um arquétipo que, por vezes, é até difícil de escapar. Mas a dica é exatamente esta: buscar o que está além do pré-estabelecido. Porque, por exemplo, não fazer as bandeirinhas da Festa Junina de uma maneira diferente, de uma maneira peculiar que as crianças imaginassem? Dar asas à imaginação dos educadores e crianças pode ser uma porta para descobertas bem interessantes. A isso soma-se o fato de que produzir alternativas diferentes gera uma apropriação muito bem vinda daquilo que é realizado. Incentive o seu grupo a criar e aventurar-se. Sem perder o foco e fugir da essência do evento, toda ousadia será recompensada.
REPRODUZIR A CULTURA DE FORMA AMPLA E RESPEITOSA
Nossa cultura é rica e vasta. De Norte a Sul, o Brasil é um continente e um oceano de manifestações, festas, contos, lendas, danças, músicas, “causos”. Por isso, é legal fugir dos velhos estereótipos, tão reproduzidos na educação, que engessam e não contemplam características mais reais de nosso povo. Por exemplo, trazer no Dia do Índio uma celebração, um ritual de uma etnia específica pode ser muito mais precioso do que a generalização da pena na cabeça. Incentive sua equipe a pesquisar e descobrir o que ela acha que seria interessante mostrar. Num país com uma cultura tão vasta, deveríamos todos fazer e mostrar coisas diferentes uns dos outros.
INCENTIVAR E NÃO OBRIGAR A PARTICIPAÇÃO DAS CRIANÇAS
Há crianças que não se sentem nada à vontade para participar de uma dança na frente de um monte de gente. E sua não participação não deve ser compreendida como prejudicial a seu desenvolvimento. Muito pelo contrário. Isso se deve, obviamente, à grande variedade de personalidades que existem. Quem não participa deve ser tão ou mais acolhido do que aquele que é praticamente “arroz de festa”. Forçar uma criança a participar pode lhe causar um grande constrangimento e ser danoso à seus sentimentos. Portanto, devemos incentivar a participação com atenção especial àqueles que não se sentem tão à vontade. Respeito é fundamental e parte intrínseca do processo educativo.
MOTIVAÇÕES CORRETAS
Os eventos escolares devem ser fundamentados nas suas intenções pedagógicas e relacionais. É necessário se ter bastante clareza sobre os porquês de estar realizando os acontecimentos. Todo o resto será consequência destas escolhas iniciais. O evento pode até ser cobrado dos responsáveis, mas é fundamental que ele esteja bem amparado em suas origens e contextualizado em todas suas etapas, pois é isso que lhe conferirá legitimidade.
INTERAÇÃO COM OS PAIS
Os eventos escolares são ferramentas importantes para criar boas relações com os pais e responsáveis, mas não devem ser encarados como os mecanismos principais que os aproximarão das escolas. O envolvimento destes é consequência do cuidado da instituição como um todo para com estas relações. Há várias formas de envolver e cultivar a comunicação com os pais que devem ser priorizadas para forjar esta necessária participação: reuniões pedagógicas e conversas informais com professores, por exemplo. A proximidade dos pais na escola não pode depender das festas, mas maximizado pela boa realização destas.
7 DICAS DE “EVENTOS ESCOLARES DIFERENTES”
Seguindo a “receita” dada, a possibilidade de realizar bons eventos é grande. Mas, e se a gente quisesse ainda mais? Um pouco de ousadia e criatividade são sempre bem vindos, não é? Pensando nisso, separamos algumas sugestões de eventos diferentes, para as escolas que gostariam de surpreender positivamente os pais e as crianças. Confiram.
ENCONTROS OU PALESTRAS
Este seria um evento voltado para os pais. Porventura, a escola segue alguma linha pedagógica específica? Abraça alguma filosofia particular? Tem fundamentos e conceitos que considera importantes? Se for possível, oferecer encontros ou palestras ministrados por pessoas que dominem estas informações é uma iniciativa fantástica. Isso aproxima os pais da instituição de uma maneira que outras situações não propiciariam. Mais que isso, contribui na formação dos próprios pais, que tornam-se admiradores e defensores do trabalho, compreendendo melhor sua relevância e seus próprios papéis nela.
FEIRAS DE TROCAS
Esta é uma atividade bem interessante para se fazer também. Trabalha nas crianças, intrinsecamente, valores importantes como solidariedade e desapego. Livros e brinquedos são ótimos para utilização nestes eventos. Mas, se a escola quiser ousar um pouquinho mais: que tal estender a iniciativa para os pais e responsáveis? Quem sabe até incluir a equipe docente. Uma feira de trocas gigante que inclua adultos e crianças não seria fantástica?
FEIRAS DE CONHECIMENTO OU PORTAS ABERTAS
Esta é uma maneira de mostrar positivamente aos pais o lado de dentro da escola. É claro que realizar uma produção esmerada no capricho pode causar certa impressão, mas que tal inovar? Além de um “tour” guiado pela escola, com o acompanhamento das crianças (e se estas fossem as guias deste passeio?), que tal momentos de brincadeira, onde os pais poderiam experimentar um pouco do lazer dos pequenos na escola? Mais. E se os responsáveis experimentassem uma amostra das aulas regulares e extras, exatamente como é feita para os alunos? Esta é uma das melhores formas de uma escola, que confia em sua capacidade, demonstrar competência institucional e pedagógica e divertir e tornar os pais parceiros.
PASSEIOS OU “EVENTOS ESCOLARES” FORA DA ESCOLA
Atividades fora da escola são muito boas para criar um senso de comunidade que aproximará os pais de forma orgânica e sincera. Um “Dia da Família” no Parque apresenta uma miríade de possibilidades. Atividades lúdicas, artísticas e esportivas casam muito bem com estes eventos.
FESTIVAL DE HABILIDADES DOS PAIS
Para realizar estes eventos escolares, os pais se inscreveriam antecipadamente para, no dia marcado, mostrarem suas habilidades artísticas, circenses, literárias ou outras. É claro que este é um evento para ser aplicado quando já há uma certa proximidade da escola para com os responsáveis e destes entre si. Pois a falta de intimidade não permitiria que um acontecimento desses fosse viável.
ATIVIDADES EXTRA
O bom relacionamento entre os pais dos alunos é algo que só pode beneficiar a escola. Cria um sentimento de comunidade, solidifica amizades entre as crianças, o que também gera laços afetivos entre eles e com a própria instituição. Não é comum as escolas proporcionarem estas possibilidades, mas o efeito custo-benefício é grande para quem quiser tentar. Por exemplo, ajudar a organizar uma atividade esportiva regular, futebol ou vôlei. Uma oficina de artesanato. Um encontro regular para troca de saberes: cada dia uma pessoa ministraria a oficina.
MUTIRÕES
Muitas vezes temos pais com habilidades específicas e disposição para ajudar. É muito bom quando os pais interagem com a escola a ponto de contribuírem na construção ou manutenção de sua estrutura física ou administrativa. Em caso da criação de estruturas novas, a apropriação e afeto são absurdamente amplificados. Por exemplo, se a escola resolve criar “Espaços de Natureza” dentro de seu espaço físico, pode convidar os pais para um “dia de trabalho”, onde ajudariam a construir muretas, plantar, semear, distribuir mini-jardins polinizadores, etc, etc.
ENTÃO…
As possibilidades são infinitas para a escola que quiser ousar e surpreender positivamente os pequenos e os grandes. O fato é que eventos escolares planejados e realizados com cuidado e carinho, além de bem contextualizados, são diamantes brutos para a relação da escola com os pais e grandes ganhos do ponto de vista institucional. Mas isso torna-se consequência, por que, ao mesmo tempo, fazer desta forma também é uma atitude de respeito para com as crianças e, principalmente, com a verdadeira missão de uma escola.