ARTES NA ESCOLA
Não é novidade dizer que nosso sistema educacional prioriza o desenvolvimento do raciocínio, das ideias e da aquisição de conhecimento (principalmente o último). Porém, isso é suficiente para que uma pessoa seja “formada”? Para viver na sociedade de forma construtiva, capacitada e plena? E qual a verdadeira importância das linguagens artísticas na escola?
Vamos, através deste artigo, tentar introduzir algumas reflexões a respeito destes assuntos. Venha conosco descobrir porque e como as escolas deveriam dedicar mais de seu tempo à prática e desenvolvimento de linguagens artísticas.
INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
Quando o formato da escola tradicional começou a surgir há tempos atrás, a percepção do que era importante de se aprender estava muito associado ao desenvolvimento daquilo que depois se denominou como Q.I. (Quociente de Inteligência). Isso tornava o sistema pedagógico atrelado a ampliação do raciocínio analítico e aquisição de informações. Ou seja, ao desenvolvimento intelectual.
Na década de 1980, no entanto, uma equipe de psicologia da Universidade de Harvard levantou a hipótese de que existiriam outros tipos de inteligência. Além da Inteligência Lógica-Matemática, ainda teríamos a Inteligência Linguística, a Musical, a Espacial, a Corporal-Cinestésica, a Emocional, a Intrapessoal, a Interpessoal, a Naturalista e a Existencial.
Ou seja, com esta hipótese, a escola tradicional estaria voltando-se apenas para o desenvolvimento de uma, das muitas inteligências humanas. O que poderia ser acrescentado ao processo para incluir o aprendizado das outras capacidades?
O QUE SÃO ARTES?
Uma destas respostas, e provavelmente a mais completa, é: Linguagens Artísticas. Mas, afinal, o que são artes? Como estabelecer uma única definição que contemple de forma única tão diferentes atividades?
Na verdade, esta é uma tarefa bem complexa: de dizer o que é “Arte”. Arte recebeu várias definições com o passar dos tempos. E estas definições diferiram muito também em culturas diversas. Hoje, considera-se uma grande gama de características para esta difícil tarefa de classificação. Porém, neste artigo, vamos usar uma das mais abrangentes, que contribui na direção que precisamos tomar para entender o que defendemos nestas linhas: Arte seria a comunicação de algo sob a forma de uma linguagem especial.
ARTES E PROFUNDIDADE
É importante mencionar que as Artes não são apenas meras criações humanas, mas também maneiras de compreender, imitar, traduzir e até abstracionar a vida, seus elementos e processos. Neste caso, um artista é alguém que, ao observar o universo e tudo que se entrelaça nele, exprime uma mensagem. De forma artística.
Ao expressar esta mensagem, ele busca (mesmo que seja com ele mesmo) um “diálogo”. E daí, passa a necessitar do observador (mesmo que este seja ele mesmo) para que a obra artística, então, cumpra sua função. Esta maneira de observar, e expressar de forma diferente, o que há ao redor é uma capacidade inerente a todos os seres humanos. Portanto, não é errado dizer que todos somos artistas. Mas é correto afirmar que nem todos praticamos ou desenvolvemos estas habilidades de forma plena, ou mesmo consciente.
A arte, portanto, tem sua origem bem lá dentro da gente. E, por causa disso, tem a capacidade de atingir com “profundidade” também quem a observa, a experimenta ou vivencia. É fato: a arte tem a capacidade de emocionar e inspirar as pessoas. Portanto, elas são uma ferramenta poderosa, quando bem utilizadas, em quaisquer processos pedagógicos.
A PIRÂMIDE DA APRENDIZAGEM 
A Pirâmide da Aprendizagem foi proposta pelo psicólogo estadunidense William Glasser, e consiste numa comparação entre eficácia e retenção alcançada pelas diferentes maneiras de transmitir conhecimentos. Glasser compreendeu o processo pedagógico como algo que ocorria de dentro para fora, e não o contrário. Portanto, quanto maior a participação e envolvimento do educando no processo, maior a capacidade de aprendizagem.
Parece óbvio, mas vamos pensar no formato tradicional das escolas. Um professor preenchendo com várias informações o “copo ainda vazio” dos alunos. Com esta imagem, podemos perceber o quanto uma afirmação destas pode ajudar a transformar a educação.
A Pirâmide estima, em porcentagem, o nível de retenção média que alunos teriam com cada técnica de ensino que fosse utilizada. Então, apenas ler livros geraria 10% de retenção do que foi lido. Quando ouvimos alguém falando este percentual aumenta para 20%. Observar fotos ou imagens, 30%. Vídeos, ou seja, imagens e áudios, gerariam 50% de retenção. Quando há envolvimento em forma de conversa ou debate, o número aumenta para 70%. Quando realizamos nós mesmos o objeto de estudo, absorvemos 80%. Finalmente, quando ensinamos a outros, a absorção daquele conhecimento chega até 95%.
E A PIRÂMIDE DE APRENDIZAGEM ARTÍSTICA?
Esta Pirâmide já demonstraria razoavelmente o ganho que processos pedagógicos teriam ao utilizar linguagens artísticas. Mas vamos ser bem específicos.
As Artes Visuais estão lá nos 30% de retenção. Obras audiovisuais se encontram na faixa dos 50%. Teatralizações e contações de histórias, principalmente aquelas que contém interatividade, alcançam os 70%. Se os alunos atuarem, a absorção pode ultrapassar os 80%, chegando à 95% em caso de apresentarem para outras pessoas.
E esta escala nem leva em conta que, quanto mais elementos lúdicos tiver a transmissão do conteúdo, quanto mais prazer e diversão for gerada no processo, estes percentuais certamente também serão ampliados.
AS ARTES ENSINANDO 
Vejamos as contribuições que cada uma das principais Artes podem dar para o desenvolvimento de competências relacionadas à diversidade de inteligências:
• Artes Visuais – Pintar, desenhar, esculpir exige imaginação e criatividade. Desenvolvem a capacidade de observação, a coordenação motora e a expressividade. E também podem contribuir diretamente nas Inteligências Intrapessoal, Interpessoal, Naturalista e Existencial.
• Música – Tocar instrumentos exige coordenação fina entre sons e movimentos. Música tem uma capacidade única de envolver as pessoas. Ainda há uma Inteligência que foi descrita especificamente para ela: a Inteligência Musical. Mas também podemos admitir que contribui na Inteligência Emocional, Corporal-Cinestésica e até na Linguística.
• Teatro – A arte de interpretar expressa diretamente, de formas diversas, o mundo, seus processos, acontecimentos e sistemas: é uma representação viva da vida. O corpo em movimento no espaço, interagindo com outros, recriando uma história e reinterpretando o mundo. O Teatro é uma das linguagens artísticas que tem a capacidade de desenvolver todas as Múltiplas Inteligências descritas até o momento.
• Circo – As Técnicas circenses tem como objetivo buscar os limites possíveis das capacidades humanas. E superá-las. Assim como o Teatro, também é capaz de contribuir no desenvolvimento de todas as Inteligências descritas, com ênfase na Inteligência Espacial e Corporal-Cinestésica.
E ainda há mais. Devemos considerar também que todas as linguagens artísticas são uma comunicação entre o artista e outros, ou seja, desenvolver capacidades artísticas também envolve a transmissão intencional de informação para alguém, o que eleva muito a eficácia do processo de aprendizagem.
E NAS ESCOLAS?
As Artes são parte obrigatória do currículo escolar no Brasil desde 1996. Mas, a verdade é que nem todas as instituições pedagógicas dão o verdadeiro valor a estas. E a cobrança didática, voltada quase que exclusivamente para a Inteligência Lógica, também atrapalha. A verdade é que evoluímos bastante nesta direção, mas há ainda muito mais caminho a percorrer até que as linguagens artísticas sejam incluídas como indispensáveis nas escolas. E no senso comum da sociedade.
O QUE FAZER, ENTÃO?
Primeiro, incluir o adequado aprendizado das artes como critério nas escolhas de escolas para nossos filhos. Basta pensar que não adianta o pequeno ser instrumentado para ser um empreendedor repleto de conhecimentos, se ele não tiver sensibilidade, entendimento de si e dos outros, contentamento e sabedoria para utilizar o que aprendeu. Depois, solicitar aos estabelecimentos educacionais que realizem e valorizem estas atividades em suas grades. Sinalizando para as escolas, e para a sociedade em geral, que isso é importante.
Por último, e não menos relevante, olhar para nós mesmos. “Adultos”. Todos apreciamos, de alguma maneira, peças artísticas. Mas nem todos exercitam o prazer de praticar arte. E isso, talvez (com certeza), faz falta. A boa notícia é que nunca é tarde para começar.
Portanto. Pegue um lápis e vá rabiscar um papel. Mexa seu corpo ao som de uma música qualquer. Se expresse. E deixe uma alegria que brota de dentro se espalhar ao seu redor.